Ser considerada uma "Pessoa Bonita" abre portas. As pessoas bonitas recebem mais oportunidades na sociedade. São motivo de admiração ou de inveja, mas sempre são percebidas.
Dentre as "ferramentas abstratas" (capitais subjetivos) que alguém pode carregar, a beleza pode ser algo que muitas vezes está presente desde a infância. Ao contrário de habilidades e estudos, que exigem prática e constância, a beleza está ali... a beleza é inerte, constante, e constitui valorização do sujeito-social.
Sendo algo que "vem fácil" (muitas vezes apenas por acaso genético, e/ou por condições sócio-econômicas que oferecem uma saúde melhor), muitas vezes sendo algo que está ali, sem haver mérito, muita gente usa essa moeda-de-troca sem nenhuma responsabilidade sobre seus atos.
Muitas pessoas bonitas usam sua beleza como uma chave, que abre portas, sem se preocupar se tem mérito ou não.
Muitas pessoas bonitas trabalham com vendas, com comércio, e seduzem clientes sem nenhum pudor.
A prostituição, dentre as possibilidades de trabalho de uma pessoa bonita, é muito mais Honesta e Direta do que as possíveis manipulações que outras pessoas bonitas podem fazer.
Ser uma pessoa socialmente considerada bonita, e utilizar isso com responsabilidade, dando exemplos de atitudes altruístas, é algo que parece raro.
Muitas pessoas bonitas estão em festas de carnaval. Festejam a cor dos seus olhos, festejam as roupas caras que suas heranças compraram desde que nasceram. Muitas pessoas bonitas, simplesmente por serem bonitas (e neste sentido não tem culpa/responsabilidade alguma), são objeto de admiração social, enquanto as "pessoas feias" recebem todo o oposto.
O que constitui "feiura"? Magreza ou Obesidade? Doenças e deformidades físicas? Falta de dinheiro para comprar roupas e acessórios?
Hoje, muitas horas de academia e dieta, e dinheiro para roupas e cirurgias plásticas, podem comprar a beleza. A beleza é um capital. Uma ferramenta. Uma máquina-da-imagem. A ser comprada. A ser valorizada.
Se antes, em nosso inconsciente coletivo, a beleza simbolizava a saúde humana, agora ela pode ser apenas um conjunto de penduricalhos.
A beleza dos dentes bonitos. De quem tem ossos bem formados, ortodontia desde pequeno. Saúde bucal e escovas de dentes.
O perfume com cheiro de marca. O carro do ano. O celular mais caro.
A beleza tem sido uma ferramenta de preconceitos. Uma forma de separar as pessoas. Em geral, sem nenhuma relação com mérito. Sem nenhuma relação com esforço.
A beleza, na sociedade racista, são os olhos azuis. Na sociedade da comida industrializada, é o corpo sarado. Na desigualdade, é a riqueza.
E nesses jogos comparativos, a beleza das pessoas com beleza, sendo admirada pelo público, concomitante ao desprezo pelas pessoas consideradas feias, gera depressão, angústia.
A beleza faz um "terapeuta quântico de cristais" ser mais famoso do que um bom profissional de saúde.
A beleza faz um "vendedor de imóveis usando terno-e-gravata" ser mais valorizado que o pedreiro de pele enrugada e sem alguns dentes.
A beleza vende. A beleza despreza. A beleza enaltece e machuca. Buscamos ela, mas se refletimos sobre isso, percebemos a vileza inerente dessa busca. A vontade de ser uma Pessoa Bonita para não ser uma Pessoa Feia.
Pessoas feias que sofram... Para que se importar? Busquemos beleza individual. Compre, compre, compre. Esqueça a miséria e a desigualdade. Apenas compre tudo aquilo que te faz ser uma pessoa bonita.
O OUTRO LADO DA BELEZA
Há um lado cruel da Beleza que somente as mulheres sentem: a objetificação de seus corpos.
Sem querer seduzir, sem querer atrair, uma mulher bonita muitas vezes recebe assédios dos mais variados. Violências. Se de um lado a beleza abre portas, do outro lado essa realidade "cobra seu preço"...
Há muitos empregos onde mulheres bonitas são preteridas nas seleções para preencher as vagas de trabalho. Mas logo ao entrar na organização em questão, passam a sofrer diferentes formas de assédio moral ou sexual.
E não, eu enquanto homem nem lembrei disso na hora de escrever meu texto anterior. Eu nunca passei por isso. Nunca fui objetificado.
Mesmo que eu tenha criticado o fato de haver tantas pessoas que são valorizadas simplesmente por serem bonitas, e muitas vezes serem egoístas e irresponsáveis, a "valorização da pessoa considerada socialmente bonita" traz problemas também.
Nem toda mulher deseja ser valorizada pela sua beleza, pois fica evidente que isso muitas vezes se sobrepõe ao esforço que ela tem em sua profissão. Quantas mulheres consideradas bonitas, mesmo se esforçando em sua profissão, são reduzidas a apenas "um rostinho bonito"?
Nisso a crítica extrapola a questão estética... aí entramos numa crítica sobre uma estrutura social vigente. O patriarcado e o machismo, que são bases da nossa sociedade.
E eu, enquanto homem, não me sinto apto a debater muito sobre esse assunto. E justamente por isso não comentei isso antes - pois nem havia percebido esse ponto.
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