A cada novo dia, desperto com a luz do sol na janela. Matutino, ouço o cantar dos pássaros e observo as plantas crescendo - insistindo em crescer, nas frestas entre-concretos urbanos.
O antigo riacho tornou-se valão. Aquela água que beberam agora é esgoto. Na terra jaz uma viga metálica que sustenta caixas-moradias humanas.
O consumo artificial gera lixo artificial, e a vida, sob artifício humano, tem sua lógica modificada. Roedores selvagens dão lugar a ratazanas de esgoto. Pombas e Pardais convivem com aves selvagens. Gatos trazidos para cá, abandonados à própria sorte em praças, simbolizam o antigo Egito civilizatório pré-colonização-europeia.
Nesta vida, neste corpo, nesta era, Eu enxergo humanos-excluídos, ratazanas e lixeiros, disputando o lixo de humanos-incluídos. Há coisas que seguem quase iguais.
- Mas o sol segue brilhando. O vento segue vivo, e em tempestades ele segue cantando. A chuva segue caindo - talvez mais tóxica que outrora. A vida segue. A vida insiste em viver! -
Eu enxerguei Osíris em minha mente. Minha mente que mente. Mente muito, por sinal. Mentiras-ou-verdades me conectam com Deuses. E o Deus-dos-Mortos está presente em minhas visões.
Osíris mostra que a ganância e a inveja humana profanaram seu corpo - aprisionaram, cortaram. Agora ele observa os humanos estando em seu sub-mundo, aguardando cada um morrer para avaliar corações. A natureza violentada na vida, ainda existirá após a morte.
Você não acredita em mitologia? É cético ou Ateu? Não tem problema! Os vermes estão aí para todos! Carnes e Ossos serão um banquete ao submundo! Daquele que veste e se reveste restará apenas memória, após putrefar e ser engolido por vermes. E que memória restará após sua morte?
Converso com os Deuses. Eles me chamam nos meus sonhos. Pode ser loucura. Podem ser arquétipos, desce inconsciente coletivo da humanidade. Sinceramente, não me pré-ocupo em responder isso.
Agora, meu papo tem sido com Osíris e Obaluayê.
Deuses da morte e e observadores da pestilência, despertos num mundo cinza, concreto, metálico. A terra coagulada em fogo, que gera o metal. O carbono queimado em fogo, que gera movimento. Observamos uma roda-da-morte girando rapidamente.
Estes Deuses colocam um filme para eu assistir. E neste filme...
Eu enxergo um enorme e antigo teatro humano. Os atores mudam seus figurinos conforme as eras. Os objetos em cena sinalizam a era tecnológica, cada dia mais des-envolvida da natureza.
Mas o drama segue igual. Chicotes, venenos, hipnóse-por-símbolos. Uma grande massa de mortos-vivos que facilmente repete discursos sem pensar.
Após sonhar com Deuses-da-Morte, eu desperto novamente.
Os raios de sol atravessam o vidro da minha janela. O vento balança os ramos das minhas folhagens. Os pássaros insistem em cantar.
Eu sei que todo o Drama humano faz parte de um grande espetáculo universal, e que nosso sofrimento coletivo um dia terminará. Neste mundo, por muitas eras, ainda haverá vida e morte. E é no sub-mundo que eu ainda consigo ter alguma esperança de justiça.
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